Qual o nosso nível de consciência sobre o valor simbólico que as imagens exercem em nossa vida, na nossa cultura e na forma como a gente pensa e interage com o mundo? Será que nós, que enxergamos, temos consciência sobre isso? Será que entendemos a importância e o significado das imagens que nos cercam?
Imagens são utilizadas para informar, entreter, vender e também para nos manipular. Elas nos dizem o que vestir, comer, pensar e também como devemos nos aparentar. Para os profissionais de marketing, isso não é nenhuma novidade. As imagens são utilizadas como estratégias para atrair e fidelizar clientes.
As imagens têm papel especial no estímulo de nossas emoções. Elas despertam os sentidos e são pensadas e planejadas de acordo com o que se deseja mostrar a um público específico. O processo de assimilação da informação de uma imagem acontece de forma emocional e subliminar.
Por exemplo, o símbolo da Apple, a gigante da tecnologia, conhecida mundialmente por desenvolver os melhores produtos eletrônicos, é uma maçã mordida. A maçã é conhecida por ser o fruto do conhecimento. Você acha que isso é coincidência e fruto do acaso? Ou será que o objetivo da marca é ser vista como aquela que se alimenta do conhecimento e que por isso consegue oferecer os melhores produtos aos usuários? Você já tinha pensado sobre isso?
Absolutamente nada é criado ao acaso. Os publicitários que o digam! A publicidade é um texto social multidimensional, com uma riqueza de sentidos que exige um sofisticado processo de interpretação e um importante indicador de tendências e valores sociais. Será que estamos atentos à essência dessas mensagens?
E as cores, o que simbolizam e como nos influenciam? As cores são percebidas não apenas pelos aspectos físicos, mas também por uma construção social e cultural. Essa percepção tem a ver com a história, com a memória e com o aprendizado. É exatamente por esta razão que os esquimós enxergam diferentes tonalidades de branco e os índios, mais variações de verde, do que a maioria das outras pessoas.
Cores e sentimentos não se combinam ao acaso e nem são uma questão de gosto individual. Para entender o efeito psicológico que as cores podem provocar, é preciso examinar o contexto em que elas estão inseridas e analisar toda a simbologia que pode estar ligada a elas (para saber mais sobre isso, pesquise sobre A Psicologia das Cores).
E se você acha que isso é uma grande bobagem, vale a pena estudar um pouco mais sobre o assunto, porque mesmo que não saiba, certamente você já foi uma “vítima” dessa estratégia. Acha que não? Então vamos lá, por que você acha que o interior da embalagem das famosas batatas fritas daquela marca dos arcos dourados é vermelha por fora e listrada por dentro? Vermelho é uma cor quente e popularmente atrelada ao amor ou a raiva e por isso é considerada a cor da fome (será por isso que o Ifood é vermelho também?). No interior da embalagem, há listras verticais brancas e amarelas. O amarelo, além de estimular a fome, também prende a atenção dos consumidores. Sem falar que as listras verticais, dão a impressão de que tem mais batata ali dentro. Isso mesmo, as listras verticais amarelas criam uma ilusão de ótica, estrategicamente criada para enganar os nossos olhos!
É inegável que estamos imersos em um turbilhão de imagens produzidas, consumidas e compartilhadas a todo instante, o que nos faz sujeitos de uma prática visual em tempo integral. Um verdadeiro processo de inclusão deve possibilitar que mesmo aqueles que não dispõem do sentido da visão possam conhecer a cultura visual e entender em que medida esse tipo de cultura afeta nossas vidas.
É preciso que nós, profissionais envolvidos no processo de inclusão de pessoas com deficiência visual, estejamos atentos e conscientes da influência simbólica das imagens que nos cercam para que possamos transmitir, também, os valores e identidades construídos e comunicados pela cultura visual em que todos (cegos e videntes) estamos inseridos.
Vale uma boa reflexão, não é verdade?
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